quarta-feira, 30 de junho de 2010

Saramago e o resgate do romance moderno.

A morte do escritor português José Saramago, ocorrida em 18 de junho, atraiu os olhares da mídia e do público para o universo nem sempre muito popular da literatura - e isso em plena copa do mundo de futebol. Em meio a jogos em mega-estádios, reprises de jogos e mesas-redondas infindáveis, a notícia do falecimento do único prêmio Nobel de Literatura em língua portuguesa ganhou o seu destaque na pauta da imprensa nacional e internacional. Nesse sentindo, e em se tratando de Brasil, a repercussão de tal notícia por aqui é, no mínimo, curiosa - e nos põe a pensar que Saramago foi, de fato, um gênio. Afinal, a comoção - mesmo que discreta - dos leitores brasileiros em relação à morte do escritor português talvez nos possa sugerir que, mesmo não sendo um autor de best-sellers nem de "auto-ajuda", Saramago conquistou um público fiel e se fez lido em nossa terra.

Num país em que os índices relativos à leitura são péssimos e as listas dos livros mais vendidos são dominadas por obras puramente comerciais e sem qualquer apuro literário, Saramago atingiu picos de popularidade normalmente restritos aos "pops" da indústria cultural que sustentam as grandes editoras e livrarias. Dessa forma, e entre os apelativos sucessos teens convertidos para o cinema - como "Códigos Da Vinci" e "Harry Poters" -, Saramago também pode ver, por exemplo, um de seus fantásticos romances maravilhosamente transportado para as películas do cinema - é o caso de "Ensaio Sobre a Cegueira," dirigido pelo brasileiro (e também genial) Fernando Meirelles.

Combatido por instituições tradicionais, como a igreja católica - que equivocadamente condenou um de seus romances ("O Evangelho Segundo Jesus Cristo") -, José Saramago não deixou que a polêmica se tornasse a "isca" que iria ou deveria fisgar leitores para sua obra. Pelo contrário, o escritor português tornou-se conhecido pela inovação de sua escrita, pela trama criativa e sempre inesperada de seus enredos, pelo tom eternamente filosófico de suas histórias - muitas vezes quase fabulares. Jamais optando por uma escrita simples ou fácil, sem entraves ou que não exige esforços e releituras por parte dos leitores, o nobel português da literatura conquistou o seu grande público leitor oferecendo a ele um texto cheio de meandros e de extremo destreza literária.
Dessa forma, Saramago, se não reinventou o romance moderno, conseguiu resgatar o gosto e o interesse dos leitores contemporâneos por esse gênero literário tão costumeiramente maltratado em nosso tempo.

-----------------------------------------------------


O Educativa apresenta neste sábado (3/jun.) - às 10h30 - e no domingo (4/jun.) - às 21 horas - um especial sobre a vida e obra de José Saramago.

Um comentário:

  1. Prezados Alexandre e Lucila:


    A mudança de horário do programa não traz nenhum problema. Aodoro Saramago e sua visão única de mundo e das coisas. Gostei muito quando li o livro Todos os Nomese quando me deparei com um escritor ácido e realista. Beijos. Ótimas. Dedos cruzados para o Nobel para Ferreira Gullar !

    Carmen Pilotto

    ResponderExcluir