quarta-feira, 28 de abril de 2010

Arte e Língua Juruna: 5 perguntas a Cristina Fargetti

A etnolinguista Cristina Martins Fargetti - tradutora e organizadora do primeiro livro bilíngue juruna-português, que será lançado na próxima sexta-feira, dia 30 de abril, em Piracicaba - conversou com o EDUCATIVA NAS LETRAS sobre alguns aspectos da vida, da arte e da língua juruna. Confira abaixo esse rápido e interessante bate-papo:

EDUCATIVA: Cristina, para quem não conhece muito bem os juruna, conte um pouquinho sobre esse povo. Em que região do Brasil eles moram? Dá para se ter uma ideia de quantos juruna existem hoje?

Cristina: Os juruna são um povo indígena tupi, cuja língua é o juruna, da família linguística de mesmo nome (não é tupi-guarani). É uma língua tonal, assim como o chinês, o coreano... Vivem em 7 aldeias, no Parque Indígena Xingu, Mato Grosso. A população gira em torno de 350 pessoas, hoje. São todos falantes da língua indígena, as crianças pequenas são monolíngues.

EDUCATIVA: Quais as principais caracterísrticas dos juruna? Eles são alegres? Possuem cânticos ou tradições peculiares?

Cristina: Cada povo indígena no Brasil tem suas peculiaridades, não são todos "o índio", como a escola não-indígena tradicionalmente vinha ensinando. Os juruna são, sim, muito alegres, respeitam suas tradições, fazem suas festas, em que bebem caxiri (bebida alcóolica a base de mandioca fermentada), dançam e tocam seus vários tipos de instrumentos musicais de sopro. Usam um enfeite de cabeça típico da sua cultura, que consiste em plumas brancas de marreco afixadas com resina vegetal na risca do cabelo e um pequeno chumaço de fios de algodão vermelho afixado na testa, logo abaixo do final da risca do cabelo. Entre os diversos objetos de sua rica cultura material, a cerâmica ornamentada com apliques zoomorfos é a mais lembrada por colecionadores de arte indígena.

EDUCATIVA: Há quanto tempo você estuda a língua juruna?

Cristina: Comecei a estudar a língua juruna em 1989, quando iniciei meus estudos no mestrado em linguística, na UNICAMP, sob orientação de Lucy Seki. Portanto, essa história já dura 21 anos.

EDUCATIVA: Quais as maiores dificuldades de se conhecer a língua desse povo?

Cristina: Acredito que a maior dificuldade para se entender uma língua tonal seja o tom, realmente. A morfologia das palavras não é complexa, não há flexão no verbo e a flexão de número nos substantivos só ocorre com nomes com o traço humano. Ou seja, a marca de plural só ocorre nas palavras "homem", "mulher", "criança". Para as demais, há palavras indicando coletivo (um bando , um cardume...) ou quantificadores (como numerais, muito, pouco...). Assim, a complexidade maior (isso para quem não é juruna, pois para o falante nativo nada é complexo...) reside na fonética e na fonologia. Há alguns sons que não são encontrados em português e em outras línguas românicas, e há o tom. Além disso, a sintaxe pode ser complicada para nós também, uma vez que , por exemplo , a ordem básica das palavras nessa língua é Sujeito - Objeto - Verbo.

EDUCATIVA: Qual método você utilizou para fazer a transcrição dessa língua? Os juruna ajudaram você a tentar reproduzir graficamente a língua deles ou você fez essa atividade levando em conta o seu ponto de vista enquanto pesquisadora?

Cristina: Para transcrever uma língua a princípio ágrafa, os linguistas usam o alfabeto fonético internacional, que se diferencia de sistemas ortográficos por ter a regra "para um som, um único símbolo". É a transcrição que se vê em bons dicionários de inglês e de outras línguas, por exemplo. Sabendo o valor dos símbolos , qualquer pessoa será capaz de pronunciar a palavra em questão, na variedade "standard" da língua. Já um sistema ortográfico não pode obedecer a essa regra, uma vez que uma língua não é falada exatamente da mesma forma por todos os falantes. Há variações de região para região (dialetos), variações devido a faixa etária, sexo, escolaridade, e outros fatores. Assim, não é possível escrevermos da mesma forma com que falamos. A ortografia, portanto, é uma convenção feita para anular, na escrita, a variação, e permitir a comunicação, por esse meio, entre todos os usuários dessa língua.

Os juruna tem ortografia desde 1994. Ela foi construída através de um diálogo entre pesquisador e falante da língua: eu havia terminado um primeiro estudo fonológico da língua, apresentei aos professores juruna uma proposta de alfabeto, que foi por eles discutida e remodelada, dando origem à ortografia, em uso já há 15 anos. É essa ortografia que aparece no livro que está sendo lançado. Buscou-se algo que fosse prático, adequado a uso em computadores, e que não trouxesse complicações desnecessárias para o aprendizado. Ela é de base fonológica, não registra os tons contudo.
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Crisitina Martins Fargetti é etnolinguista, professora e pesquisadora da Universidade Estadual Paulista - Unesp - de Araraquara. Ela conversou com o EDUCATIVA NAS LETRAS por email.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Primeiro livro bilíngue juruna-português será lançado em Piracicaba!

Na próxima sexta-feira, dia 30 de abril, às 19h30, no Museu Histórico e Pedagógico de Piracicaba, acontece o lançamento do livro Kanamãi 'a'ahã dju'a papera - livro do artesanato juruna. Escrito e ilustrado por professores e alunos juruna, o livro é o primeiro a ser produzido em edição bilíngue juruna-português. Traduzido e organizado por Cristina Martins Fargetti, pesquisadora e professora da Universidade Estadual Paulista de Araraquara (Unesp), o livro tem o patrocínio do convênio da ABRALIN-IPHAM.

Na ocasião do lançamento, acontecerá também a abertura de uma exposição de arte juruna e de 50 fotos ampliadas e de autoria da pesquisadora Cristina Fargetti - que também é a curadora da exposição e proprietária do acervo que será exposto.

Todos os visitantes da exposição ganharão uma revistinha com informações sobre o povo juruna e atividades lúdicas, inclusive envolvendo a língua indígena.

O Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes está situado à rua Santo Antônio, 641, centro, Piracicaba-SP.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A ILOGIC@mente de Newman Ribeiro Simões no EDUCATIVA NAS LETRAS


Agrônomo, matemático, professor, prosador e poeta: esse é Newman Ribeiro Simões - que no próximo dia 6 de maio estará lançando, em Piracicaba, o seu primeiro livro de poesias, Ilogicamente. Publicado pela piracicabaníssima Jacintha Editores (www.jacinthaeditores.blogspot.com), o novo livro de Newman chega a público trazendo trazendo em suas páginas a beleza da uma poesia que ganhou o aval de Tiago de Mello.


Chamado pelo mestre amazonese de "poeta de primeira água," Newman já teve a sua poesia reconhecida e premiada em diversos concursos literários do país - cabendo destacar, dentre eles, o importante Prêmio Escriba de Poesia. Em 2008, por editoria própria, Newman publicou o livro de contos A Morte Canta num Canto de Um Conto. Publicando agora por uma grande editora, o poeta surpreende o seu público pela qualidade de seus escritos e pelo projeto gráfico-editorial que o livro apresenta.


Com exclusividade e em primeira-mão, o EDUCATIVA NAS LETRAS conversou com o poeta, em um programa especial - recheado de ótima conversa sobre literatura em geral. O programa também bateu um papo com o jornalista Heitor Amílcar, editor chefe da Jacintha Editores - a quem agradecemos pelas fotos que ilustram esta matéria.

Então, não perca e avise os amigos: Newman Ribeiro Simões no EDUCATIVA NAS LETRAS! Sábado, dia 1º de maio, às 10 horas da manhã (e com reprise no domingo, dia 2 de de maio, às 21 horas), pela sua RÁDIO EDUCATIVA FM DE PIRACICABA 105,9 Mhz.


(fotos: Heitor Amílcar - Jacintha Editores)

terça-feira, 20 de abril de 2010

POESIA ELETRÔNICA NO SESC



No próximo dia 28 de abril, quarta-feira, às 19h30, o Serviço Social do Comércio de Piracicaba (SESC) traz para a comunidade piracicabana a palestra-lançamento d0 livro Poesia Eletrônica: negociações com os processos digitais, do professor universitário e poeta Jorge Luiz Antonio. Na ocasião, o autor comentará sobre a passagem da poesia (advinda do mundo impresso) para os caminhos do meio digital. Em tempo de "tabletes" de última geração - como os tão propalados "kindle" e "Ipad" - o livro de Luiz Antonio mergulha nos diferentes processos, tipos e produções da poesia eletrônica.

Não perca!

O SESC Piracicaba fica à rua Ipiranga, 155 - Centro (próximo à Rua do Porto). O telefone para mais informações é (19) 3437-9292. Email: email@piracicaba.sescsp.br

terça-feira, 13 de abril de 2010

DICAS DE FILMES!


O EDUCATIVA NAS LETRAS continua de férias - e reprisando os melhores programas de 2009-2010. Mas, enquanto não voltamos ao ar com novos programas, continuamos por aqui - preparando novas atrações e levando até você as mais variadas dicas de livros, cinema, música, teatro e de cultura em geral!


E a sugestão desta semana vem do cinema americano. Disponivel em DVD, "A Garota do Parque" é uma ótima pedida para quem quer curtir momentos agradáveis debaixo do cobertor e diante da televisão.


Centrada na figura de Julia Sandburg (vivida pela atriz Sigourney Weaver), o filme conta a história de uma mãe que, traumatizada pelo desaparecimento de sua filha de 3 anos, em um parque novaiorquino, tenta recuperar - 15 anos depois - o amor e o afeto perdidos após esse trágico acontecimento. Nesse momento, Louise (interpretada por Kate Bosworth), uma garota problemática e de passado obscuro, entra na vida de Julia - fazendo com que novos conflitos psicológicos e antigas feridas brotem na vida dessas mulheres que tentam, a todo custo, retomar o rumo de seus destinos.


Fique de olho na atuação de Sigourney Weaver - agora uma atriz madura, vivendo um papel bastante difícil e nada aventureiro. Ao mesmo tempo, deixe-se levar pela beleza de Kate Bosworth - que se revela nesse filme como mais uma grande aposta do cinema americano.


Sem grandes novidades ou trama supreendente, "A Garota do Parque" faz a lição de casa e não decepciona o espectador ao final da sessão.


Vale a pena conferir!