terça-feira, 27 de julho de 2010

Falando da Vida no Educativa nas Letras!

O grupo piracicabano Falando da Vida - que está completando 25 anos de existência - marca sua presença no Educativa nas Letras deste final de semana, dias 31 (jul.) e 01 (agt.). Comentando sobre a história desse conjunto fantástico e sobre as novidades que farão parte dos espetáculos deste ano - que acontecerão nos dias 13, 14 e 15 de agosto, no Teatro Municipal de Piracicaba -, Newman Ribeiro Simões, Marco Tadeu Januário (Janu) e Wana Narval relembram no Educativa as canções e os momentos que marcaram a trajetória do Falando ao longo desses 25 anos de estrada.
Dando uma "palinha" das mais agradáveis, Janu e Wana cantam juntos - diretamente dos estúdios da Rádio Educativa - duas das mais aplaudidas canções que passaram pelo repertório do grupo: "Conte Partiro" e "João e Maria." O programa traz ainda alguns dos principais textos apresentados por Newman Simões ao longo dos shows do Falando - textos esses de autoria do próprio Newman e também de outros autores de nossa literatura brasileira e universal.
Enquanto não chega a hora de ver o Falando da Vida no palco do Municipal, matemos a saudade desse incrível grupo no próximo Educativa nas Letras! Não perca e avise aos amigos!

Abaixo, saborei um dos textos de Newman Ribeiro Simões, escrito para uma das apresentações:

Mesmo sabendo, hoje, que o para sempre sempre acaba, foi por encanto que um dia acreditamos que os belos sonhos eram para sempre. Esses sonhos que colocamos no horizonte às vezes são inatingíveis, mas nos fazem caminhar. E é preciso caminhar tendo a serena contemplação do inevitável, aceitando a vida como ela é, mas sem renunciar ao direito de lutar pela vida que poderia ser. E conviver com uma memória carregada de saudade, mas sem perder o fascínio pelo presente e o encanto pelo futuro.

Emprestei de um grande amigo uns versos que trago pra vocês: Sim, é preciso pensar que eu fui e sou feliz./E que a dor, se tenho, eu a guardo aqui./Não é preciso chorar tristezas,/Se na beleza dos meus versos tem soluços já./Já não é tão cedo e não há tempo mais.

Meu medo é ficar assim tão só/Com os meus versos só meus,/Na minha tristeza de tê-los só eu./ Eu sei que na minha estrada cumprida,/Uma vida, que já tive, foi./E foi com ela a esperança de ser mais./Na paz de hoje, apenas as lembranças de ter sido/E, assim decidido, sigo./Pego lá meus versos escondidos e os canto agora.

No entanto, para que no meu canto haja encanto, é preciso, por enquanto, semear a paz e fazer brotar o amor. Porque, se brota, é semente e semente é futuro. E o amor? Bem, como diz o poeta: “O amor é como um grão/Morre, nasce trigo/Que vive e morre pão."

Bem, é preciso pensar que eu tenho que ir embora! Que meus versos/Já não são só meus agora./ E que já são teus os meus caminhos./No encanto das canções, meus amigos,/Vou-me embora./ Os meus versos, antes só meus/ Também são seus agora.

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MARCAS DO TEMPO é o nome do espetáculo que o grupo Falando da Vida apresenta no Teatro Municipal de Piracicaba, nos dias 13, 14 e 15 de agosto - e que comemora os 25 anos do grupo.
A renda dos shows deste ano será destinada à Aliança da Misericórdia e Vaccip.
(fotos extraídas do site do grupo: www.falandodavida.com.br)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O som e o sentido: a antropologia do som no Educativa nas Letras

A música dos povos e a identidade sonora das mais variadas etnias é o tema do Educativa nas Letras deste final de semana - 24 e 25 de julho. Discutindo e explicando as questões que envolvem a produção musical (seu registro, pesquisa e difusão) realizada nos mais longínquos recônditos do planeta ou nas mais próximas praças de cidades cosmopolitas ou interioranas, o Educativa conta neste programa com a presença de alguns alunos e de uma das professoras do curso de Antropologia do Som - do programa de pós-graduação em música da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Entre poemas de Manuel Bandeira e ao som das caixas do divino, os entrevistados discorreram também sobre a educação musical, sobre a necessidade de investimentos que possibilitem a perpetuação de bandas marciais e sinfônicas, sobre a influência da música na vida das pessoas e, é claro, sobre a interface da música com a literatura. Pelo currículo dos entrevistados - listados abaixo - você vai ver que o próximo Educativa nas Letras está pra lá de imperdível! Confira:

Maestro Mazinho Sartori: iniciou seus estudos musicais com o pai, músico de banda, aos sete anos de idade. É formado pelo Conservatório Dramático e Musical de Tatuí, onde também atuou como professor e regente. Como instrumentista participou de renomadas orquestras como a Sinfônica Municipal de Campinas, Sinfônica da Unicamp, Municipal Jovem de São Paulo, Sinfônica de Piracica, entre outras. Foi regente titular da Orquestra Popular Brasileira de Ribeirão Preto, de 1993 a 1996, e da Banda Municipal Carlos Gomes de Campinas, de 1995 a 1999. No campo didático, foi membro e professor da Sociedade de Música Pio X , de Jundiaí, por mais de quinze anos. Graduado pela Unicamp, atualmente é mestrando em música na condição de aluno especial pela mesma universidade. É regente titular da Orquestra Sinfônica Municipal de Barretos - SP desde 2006
Maestro Jairo Perin: arte-educador. Formado em regência pela UNICAMP, atua na área de educação musical para alunos do ensino fundamental I e rege corais adultos na cidade de Campinas (Coral do Clube Regatas, Coral Harmonia da Associação dos Aposentados da Fundação CESP, Coral da Universidade da Terceira Idade- PUCC). Pianista e compositor, acabou de produzir o CD infantil "Vamos Brincar de Inventar" e tem se apresentado com o show de mesmo nome em clubes, praças, parques, pátio de escolas etc.
Cristina Bueno: atriz, percussionista, arte educadora, pesquisadora dos ritmos das manifestações populares brasileiras e artesã de Caixa do Divino. Formada em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), é pós-graduada em “Capacitação Docente em Música Popular Brasileira” pela Universidade Anhembi-Morumbi. Atualmente é Diretora musical do grupo "Lapislázuli" de Campinas e orientadora dos grupos de pesquisa de cantos e ritmos das manifestações populares brasileiras “Caixeiras Tamboriflôr” (de João da Boa Vista/SP) e "Caixeiras da Guia”, “Caixeiras das Nascentes” e do bloco Carnavalesco de Rua “As Caixeirosas” (todos de Campinas).
Érica Giesbrecht: possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e mestrado em Antropologia Social pela mesma universidade. Atualmente é aluna do programa de doutorado em Música do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de antropologia, com ênfase em etnomusicologia, atuando principalmente nos seguintes temas: performance, memória social, identificação, cultura popular e música.

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O Educativa vai ao ar aos sábados - às 10h30 - com reprise aos domingos - 21 h. O programa pode também ser ouvido via internet! Basta clicar no link "RÁDIO AO VIVO," colocado no canto esquerdo superior desta página.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Carla Ceres e Ademir Barbosa no Educativa nas Letras!

Vencedores do primeiro Concurso Literário de Arte Cemiterial de Piracicaba, Carla Ceres e Ademir Barbosa (o Dermes) estarão no Educativa nas Letras deste final de semana. Acostumada a vencer concursos literários pelo Brasil e no exterior, Carla Ceres obteve também o segundo lugar no primeiro concurso de microcontos da Academia Brasileira de Letras - ocorrido entre os meses de maio e junho deste ano. Dermes, por sua vez, também é um escritor acostumado ao mundo dos prêmios literários - sendo que, dentre as várias premiações obtidas por seus livros, cabe destacar duas indicações ao PNLB e PNBE e uma indicação ao Prêmio Jabuti de 2002.
Vale a pena conferir!
O Educativa nas Letras vai ao ar sempre aos sábados - 10h30 -, com reprise aos domingos - 21h

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Arte Cemiterial: contos premiados!

O Primeiro Concurso Literário de Arte Cemiterial de Piracicaba - promovido pela Secretaria de Cultura de Piracicaba e realizado pela Biblioteca Pública Municipal Ricardo Ferraz de Arruda Pinto - anunciou, na última sexta-feira (1/jul.), os contos selecionados pela sua comissão julgadora. Em primeiro lugar ficou o conto "A Sétima Estátua," de Carla Ceres. O segundo lugar foi para "REQUIESCAT IN PACE," de Ademir Barbosa (o Dermes). Em terceiro lugar ficou o conto "Acredite," de Marcelo Andrade Nascimento.

No final de semana dos dias 17 e 18 (jul.), o Educativa apresenta um especial sobre esse concurso e traz também um delicioso bate-papo com os autores premiados Carla Ceres e Ademir Barbosa. Abaixo você pode ler e curtir os contos com os quais esses dois autores vencerem o concurso. Aproveite!
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A SÉTIMA ESCULTURA
(Carla Ceres)

Eu tinha apenas sete anos e estava ajudando meu pai na marmoraria quando aconteceu pela primeira vez. Foi rápido demais. Apaguei enquanto varria o chão. Correram parentes, correram clientes, correram vizinhos, correu a notícia:
- O Zizinho da marmoraria morreu!
Esse “Zizinho” era eu, mas só me chamavam assim depois de morto. Em vida, eu era “aquele moleque do Ziza”, “aprendiz de capeta”.
Foi tanta gente carinhosa vindo chorar no meu velório que desisti de morrer e voltei.
- Catalepsia - diagnosticaram os clientes mais cultos.
- Milagre - concluiu minha mãe.
- Parte com o diabo - sentenciaram os vizinhos.
A família precisou me desterrar para a casa de um tio, porque os clientes começaram a evitar nossa marmoraria. Achavam que eu não dava sorte.
Tio Olavo foi bom para mim. Generosamente aceitou minhas dez horas de trabalho diário, como aprendiz, na fundição. Assim eu não sentiria que estava “morando de favor”. Permitia-me, também, continuar esculpindo nos momentos de folga.
Ah, as esculturas, minha paixão, estiveram sempre comigo! Meu pai restaurava peças de mármore e me ensinou a esculpir usando retalhos de pedra. Na fundição, eu economizava cada centavo para imortalizar, em bronze, minhas pequenas criações.
Aos catorze anos, aconteceu de novo: morri e desmorri bem rápido. Tio Olavo se aborreceu. Era ”má publicidade”. Vendeu minhas estatuetas “pra pagar o prejuízo”. Um comprador, dono de galeria, gostou delas e me arranjou uma bolsa para estudar artes plásticas.
- Se ele vai perder tempo estudando desenho - disse tio Olavo - é melhor arrumar um emprego de verdade pra se sustentar.
Fui trabalhar na galeria. Trabalho fácil, estudo interessante, muito tempo livre, material à vontade para esculpir, passeios a museus... era o paraíso! E o paraíso é o inferno quando aparece assim, de repente, para quem não está acostumado com a boa vida. Comecei a pensar na morte.
As esculturas vendiam bem... e eu pensando na morte. Eu ganhava prêmios... e pensava na morte. Minha exposição era um sucesso... e a morte me fazia delirar.
Delírio ou visão? Não sei.
Eu ia fazer vinte e um anos e cismei que morreria de novo e, dessa vez, poderiam me enterrar vivo. O terror foi tanto que passei mal. O mundo se transformou numa neblina brilhante. Um anjo de mármore apareceu e falou comigo. Disse que meu mal nunca mais me atacaria se, a cada sete anos, eu doasse uma escultura para um cemitério. Seriam sete esculturas, uma a cada sete anos, o anjo da visão me disse.
A primeira doação foi para meu próprio pai, que faleceu no mês seguinte. Fiz um anjo da saudade. Meu tio Olavo gostou tanto que se ofereceu para me aceitar de volta na fundição. Abri mão da oferta porque estava com exposição marcada fora do país.
O túmulo de minha mãe, morta sete anos depois, recebeu a escultura de uma pranteadora. Eu ainda estava rezando quando tio Olavo bateu no meu ombro.
- Voltou da Europa pra enterrar os parentes? Veio fazer bonito pros jornais mostrarem como o “grande artista” é generoso?
Olhei incrédulo para ele.
- Pare de me olhar com essa cara de abutre! E guarde suas esculturas pro seu enterro! Eu ainda vou viver muito.
E viveu mesmo. Doei outras esculturas para pessoas desconhecidas, a cada sete anos. Meu mal nunca mais me afligiu. Enriqueci, envelheci e esperei. Esperei, ansiosamente, a morte de tio Olavo. Preparei, com todo ódio, a escultura de seu túmulo: a escultura de um velho com olhos maus, deixando cair um livro de contabilidade.
No ano em que eu deveria entregar a sétima escultura, tio Olavo adoeceu. Obstinadamente, aguardei seu falecimento, porém meu aniversário chegou e tio Olavo melhorou.
Morri ao receber a notícia de sua saída do hospital. O velho miserável me enterrou mais que depressa e ainda mandou colocar sua escultura por cima do meu cadáver.
Agora estou enterrado, mas continuo bem vivo. Quem quiser uma prova é só visitar meu túmulo, pois, de sete em sete anos, quando faço aniversário, o livro da escultura se abre e, em vez de contabilidade, suas páginas metálicas ilustram a história da minha vida.

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REQUIESCAT IN PACE - descanse em paz.
(Ademir Barbosa)

O que me encanta no cemitério são os anjos. Minha mãe, que nada entendia de latim, mas sabia tudo de anjos, dizia que nos pergaminhos suspensos pelos anjos se escrevia PAX porque no tempo em que foram criados por Deus era essa a grafia. Minha mãe foi enterrada num túmulo azulzinho, mas sem azulejos e anjos. Contudo, ao seu lado, o anjo atlético do túmulo da baronesa abana as asas sobre o jazigo de mamãe nos dias de verão. É uma companhia e tanto esse anjo.
O túmulo de mamãe é da família. Lá estão outros parentes, mortos há muito tempo. Dentre eles, vô Genésio, mais conhecido como Dom Eunuco. O velho ganhou no jogo do bicho, comprou um bar, cercou com arame farpado e bebeu até morrer. Antes, porém, havia morrido Virgulino, seu cão, e o cadáver havia ficado embaixo do balcão do bar, fedendo para ninguém entrar. Dom Eunuco ganhou esse apelido porque foi expulso de casa pelo sogro, que o ameaçou capar porque ele havia dormido com todas as cunhadas e a sogra. Foi salvo pelo pároco, que lhe deu o número de telefone de um primo distante, de Minas, e morreu na mesma noite. Dom Eunuco fez combinações com os algarismos, jogou e ganhou. Deu um sino novo para a igreja e mandou fazer um mausoléu para o pároco, enterrado no centro do cemitério, para onde acorrem famílias aflitas, pedindo-lhe paz, saúde, e inspiração para jogarem no bicho, na loteria, no bingo da paróquia, na quermesse da catedral.
Além de vô Genésio, dividem espaço com mamãe o primo Batuíra, menino morto porque sua bicicleta foi pega por um caminhão, e Zia Carmela. Quando Batuíra morreu, o túmulo tinha algumas rachaduras. A mãe dele não dormia, pensando que goteiras poderiam molhar os cabelos do filho morto. Então, apesar do período de chuvas, o marido foi ao cemitério e restaurou todo o túmulo, pintando-o de azul, o azul original sobre o qual vieram outros azuis (mas nenhum azulejo) ao longo do tempo e dos mortos.
Zia Carmela era o retrato da alegria, e mesmo no santinho da missa de sétimo dia ela estava sorrindo na foto. Aliás, no caixão ela sorria. Fazia doces em formato de animais:vaquinhas, esquilos, baleias e até centauros coabitando numa lata de panetone vinda da Itália. Fazia também cachecóis coloridos para os sobrinhos e pulôveres para os vizinhos, caminhos de mesa para as comadres e bolsinhas para as netas que estudavam fora e moravam sozinhas. Gostava de contar histórias, em especial quando trabalhava com as agulhas. Lobisomens de sítio, sacis, caixeiros sem cabeça, aparições de santos, trapalhadas de Mussolini, cachorros falando latim, padres vampirizados e uma famosa enchente do século passado eram alguns dos seus temas prediletos. Não saía de casa sem passar batom. Dizia que seu amor (não o falecido, mas um soldado inglês morto de tifo havia quase cem anos) a espreitava nas esquinas e às vezes a beliscava na padaria. Queria estar pronta para quando ele viesse buscá-la. Numa tarde de sol e algum vento, ele finalmente veio.
Dos outros parentes que jazem no mesmo túmulo, não vale a pena falar, pois não viveram. A baronesa certamente serviu de modelo para o anjo que protege e enfeita seu túmulo. Embora não haja registro disso nos arquivos do velho Fabretti, que gostava de ser chamado de escultor de mausoléus, vi muitas fotos da baronesa que correspondem ao anjo (a cintura sempre apertada, os seios proeminentes sob os vestidos, os olhos verdes, um tanto tristonhos, o sorriso de quem organiza obras beneficentes), e ela também já me apareceu em sonhos. A foto mais famosa é a do rosto, a mesma que ornamenta o túmulo, sobre as letras douradas do votivo Requiescat in pace. Mas há outras tantas nos arquivos da cidade, a baronesa sempre trajando cores fortes, como o vermelho e o amarelo. Em meus sonhos, geralmente não traja nada.
Foi estrangulada pelo marido porque gostava de nadar nua na cachoeira da fazenda, o que ele não permitia. Saía de manhãzinha, auxiliada por duas mucamas, e mergulhava na piscina natural formada pelas pedras. Secava-se ao sol, acariciando o corpo deitada na pedra maior. Dizia para o marido que ia à missa. Ele acreditava e ia visitar as escravas na sensala no mesmo horário. Um dia ela cochilou distraída na pedra grande, esqueceu-se do tempo enquanto as mucamas conversavam sob uma árvore. O marido, que resolvera campear a propriedade, passou pela cachoeira, viu a cena, e estrangulou a mulher. As mucamas choravam. Arrependido, encomendou o túmulo e o anjo ao velho Fabretti. Morreu louco, sem filhos, nem escravos e foi enterrado na capela da fazenda. Depois de sua morte, cúria diocesana, e depois a prefeitura, passou a cuidar do túmulo da baronesa, sempre impecável em seu mármore lustroso, local de peregrinação de mulheres em busca de cura para frigidez.
Um dia, o corpo sob a terra, saberei os segredos dos meus mortos, cujas histórias, vidas, datas, se misturam no mesmo pó.por ora, devo conhecer-lhes o destino (mesmo para evitá-lo), saber que baronesa não mais existem e que nunca foram anjos. Mas que os anjos podem ser mulheres, lá isso podem, desde que Deus os criou, num tempo em que, nuas, nadavam e descansavam nas pedras, em paz.