terça-feira, 2 de junho de 2009

Edgar Alan Poe e a Literatura Policial foram o tema da melhor mesa de debates do Festival Literário da Mantiqueira.

Mediados por Luis Augusto Fischer, os escritores Luís Fernando Veríssimo, Flávio Carneiro e Luís Alfredo Garcia Rosa tomaram parte daquela que foi, sem dúvida, a melhor mesa de debates da Mantiqueira 2009. Tendo como ponto de partida o universo literário do escritor romântico Edgar Alan Poe – considerado o “pai” da narrativa policial – os escritores em questão puderam expor suas impressões e aspirações sobre esse gênero literário.


Abrindo o debate, Fischer lembrou a todos que – no século XIX – foi Edgar Alan Poe também o grande incentivador da narrativa curta (o conto), quando todos os demais escritores davam preferência ao novo gênero que surgia: a longa narrativa romanesca.

Já o escritor Flávio Carneiro, partindo de Poe, revelou que foram as aventuras de Sherlock Holmes as grandes iscas que o atraíram para o universo do gênero policial. Carneiro lembrou que, quando crianças, tais leituras eram a ele proibidas pelos pais – que consideravam que esse tipo de leitura eram “bobagens.” Para Carneiro, o gênero policial é fascinante, pois é capaz de atrair e congregar leitores dos mais diferentes tipos.


Luis Fernando Veríssimo, por sua vez, abriu sua participação nesse debate rebatendo a uma provocação feita pelo mediador Luis Augusto Fischer – que, ao passar a palavra a Veríssimo, brincou com o escritor gaúcho, comentando ironicamente sobre sua conhecida falta de eloquência oral. “Esse negócio de que eu falo pouco é um mito,” respondeu Veríssimo, “na verdade eu não falo pouco. Os outros é que falam muito” – completou.

Sobre sua iniciação, como escritor, no gênero narrativo policial, Veríssimo relembrou as estórias de ED MORTE (espécie de sátira ao padrão do detetive americano, personagem típico das narrativas policias desse país). Enquanto uma versão brasileira desse tipo de detetive, ED MORTE é um anti-herói – que nada descobre e para quem nada dá certo. Sobre sua produção atual nesse gênero, Veríssimo revelou que está escrevendo um novo romance policial, cujo título provisório é “Os Espiões.”


Tendo publicado seu primeiro romance aos 60 anos, Garcia Rosa, que se auto intitulou um ficcionista tardio, lembrou que Poe deu também ao gênero policial a atmosfera de sombra na qual as estórias policiais inserem-se até hoje. Citando Poe, Rosa lembrou que, no fundo, “a essência de todo crime permanece sempre irrevelada” – pois há algo no crime que ultrapassa a razão e a verdade. Segundo Rosa, se a verdade é sempre feita de ideias claras e cristalinas, há no crime uma região de sombras que nunca chega a se iluminar. Pois, por mais que a verdade sobre um crime venha à tona, a essência que levou a ocorrência de tal crime sempre se manterá obscura e irrevelada. “O que se contrapõe a verdade não é a falsidade”, declarou Rosa, “mas o engano.”

Dando margem a fama de falar pouco, Veríssimo arrancou risos da plateia quando, ao ser convidado a comentar as palavras de Garcia Rosa, declarou ironicamente: “faço minhas as palavras do orador que me antecedeu” – e, após as gargalhadas do público, completou: “mas vou falar alguma coisa também.”

Veríssimo então chamou a atenção para o fato de que, de maneira geral, todo romance tem sempre ares de um romance policial – pois todo bom romance tem sempre algo a ser desvendado. No romance policial, todavia e em especial, “o jogo que se faz com leitor é sempre uma questão de linguagem” – disse Veríssimo.

Fechando o debate, Flávio Carneiro lembrou que dificilmente os contos policiais de Poe fariam sucesso se estreassem hoje, pois a estrutura narrativa desses textos são compostas de longas introduções nas quais uma extensa profissão de fé é sempre desenvolvida por Poe.

Um comentário:

  1. Nossa! Sou fã do Poe. Deve ter ocorrido muito terror e suspense na mesa!Parabéns!

    Ana Marly de Oliveira Jacobino

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