Com esse texto - que aqui segue com pequenas alterações necessárias à adaptação ao escopo do blog - esperamos que nosso leitor e ouvinte também conheça um pouco mais sobre a Passo a Passo – e se junte a nós nos esforços para mantermos a Passo a Passo sempre aberta e atuante. Dessa forma, e de antemão, cumprimentamos mais uma vez à Gazeta de Piracicaba por mais essa importante causa repercutida em suas páginas.
SUPERANDO LIMITES
Niva Miguel
Maria Aparecida da Silva, piracicabana de 54 anos, é uma mulher que muita gente finge que não vê quando ela está caminhando pela rua. No entanto, é só chegar mais perto e ver - nessa mulher de pele preta e sorriso branco, de braços fortes e de fala firme - que ela é iluminada, guiada pelos bons espíritos, que possui uma luz de nobreza singular e que nasceu para ser mãe.
Cida, como é conhecida, sonhava com um grande amor, com um casamento e com filhos. Assim, há 31 anos, nasceu Denis Alves do Nascimento: um meninão que o médico disse ser saudável. Mas a criança não sugava o peito nem a mamadeira e não ficava em pé. Alertada por uma amiga, Cida o levou até o Centro de Reabilitação Piracicaba, e de lá para a Unicamp.
Constatou-se, então, que ele possuía a Síndrome do X-frágil (uma anomalia causada por um gene defeituoso localizado no cromossomo X, cuja principal manifestação revela-se no comprometimento da área intelectiva ou cognitiva – e causa retardo mental). Por conta disso, Denis foi considerado um deficiente intelectual que precisava de cuidados constantes. Assim, ele passou cerca de nove anos no Centro de Reabilitação Piracicaba e aproximadamente 10 anos na Apae. E há 14 anos ele frequenta a Escola de Educação Especial Passo a Passo, única em Piracicaba capaz de lidar com esse tipo de deficiência. Mas para chegar até lá não foi fácil.
Morando no Jardim Camolesi, mãe e filho acordam, de segunda à sexta, às 5h30. Denis faz o que pode, mas precisa de ajuda para tomar banho, para higiene, vestir roupas e para tomar o café. Depois, caminham cerca de 500 metros para pegar um ônibus. Ele não consegue andar depressa. Nesse caminhar, começa o sofrimento da mãe: "algumas pessoas nos olham como se fôssemos bichos; já aconteceu de um motorista nos olhar com desdém e dizer ‘entre lá, vai’. Contudo, outras pessoas nos cumprimentam e têm carinho por ele. Quando isso ocorre, ele fica feliz, sorri e diz: eu sou Denão da Hora, como ele mesmo se apelidou", explica Cida.
Dentro do ônibus a humilhação continua: "as pessoas, principalmente os jovens, não respeitam os lugares reservados para deficientes e idosos. Um certo dia, pedi o lugar a um jovem e ele respondeu, ‘não vou dar’. Parecia que meu filho era um bicho, um monstro que estava chegando. Ele não tem coordenação e nem força para segurar. Nessa hora dá uma revolta, fico chateada, é muito triste isso aí. É só humilhação! Pegamos ônibus porque a prefeitura não oferece transporte para deficiente intelectual, só para cadeirantes," diz Cida. Mesmo com os olhares indiferentes, Cida leva Denão da Hora para todos os lugares em que ela vai: nos bancos, shows, festas, casamentos e até na praia. "As pessoas têm de aceitá-lo, afinal, ele é um cidadão", fala. "Por isso, a escola Passo a Passo é importante, sem ela o que ele vai fazer? Com as atividades pedagógicas o menino vem melhorando muito. Essa não é só a minha preocupação, mas de 44 mães que têm seus filhos lá", finaliza Cida.
A escola Passo a Passo foi fundada em 1º de agosto de 1989, com a proposta de atender alunos portadores de deficiência intelectual, visando legitimar a inclusão na sociedade como cidadãos plenos, capazes de opinar e tomar suas próprias decisões. A escola possui hoje 44 alunos entre 13 e 57 anos.
"A instituição funciona com 15 funcionários, entre professores e técnicos. A metade desses salários é paga através de um convênio com o Estado, e a outra é de responsabilidade da escola – que, para supri-los, promove eventos, bingos, jantares e outros eventos. A entidade tem um número reduzido de sócios, a maioria são pais de alunos, que pagam uma contribuição de acordo com o que podem (algo entre R$10 e R$170). Diante desse quadro, a escola passa por dificuldade e está correndo o risco de fechar. Por isso, um grupo de voluntários assumiu e está contribuindo para a reestruturação da escola. "Ouço muitas pessoas falarem que a Passo a Passo vai fechar e que a clientela pode ser transferida para o Centro de Reabilitação Piracicaba ou para a APAE, isso me motivou a oferecer um trabalho voluntário com o objetivo de que a escola supere essas dificuldades.
Alguns alunos podem ser transferidos para instituições congêneres, mas outros necessitam de atendimento específico, porque além da deficiência eles têm componentes psiquiátricos que precisam de uma programação específica que nem uma outra escola pode oferecer", argumenta Rosa Pompeu, assistente social e gerente do Centro de Reabilitação Piracicaba. E complementa: "é preciso que a comunidade piracicabana participe ficando sócia, participando dos eventos e promoções, através de doações e, principalmente, acreditando que essa diretoria caminhará Passo a Passo com a escola."
EM TEMPO: a Escola de Educação Especial Passo a Passo fica na rua Governador Pedro de Toledo, 595 - Piracicaba/SP. Telefones: 3422-0504 e 3422-1033. E-mail: alunos_eamigos@hotmail.com
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Matéria Publicada na Gazeta de Piracicaba e gentilmente cedida ao Blog do Educativa por Niva Miguel. Email: niva@femanet.com.br
Obrigada, Alê.
ResponderExcluirSua competência com as Letras e com a música vai muito além. Hoje tive a feliz surpresa de sentir sua sensibilidade e engajamento à uma causa social que é de toda a cidade, não só minha , do Niva e da nossa Escola e Associação.
Meu carinho a você.