Atiq Rahimi e Bernado de Carvalho fizeram aquela que foi a melhor mesa de debates da FLIP desta sexta-feira - que ainda tem muito a oferecer ao grande público que comparece à festa em Paraty. Nascido em Cabul (Afeganistão), Atiq Rahimi é uma das vozes que, dentro da literatura, retrata a condição do mundo muçulmano - e, em especial, da mulher muçulmana. Fora do Afeganistão, Atiq estudou francês e, por consequência, acabou produzindo sua literatura nesse idioma - fato que o insere no panorama da literatura francesa atual.
Por outro lado, Bernado Carvalho é brasileiro, nascido no Rio de Janeiro, em 1960, e - de acordo com Beatriz Fonseca, mediadora do debate e professora de literatura comparada na UFRJ - é hoje um dos principais nomes da prosa brasileira.
Sob o tema "O avesso do realismo, " os escriotres foram instigados a discutir a questão da tradução e da recepção de suas obras nos mais diversos países. Sobre o assunto, Atiq comentou que seu primeiro livro em prosa foi divulgado no Afeganistão e posteriormente reeditado no Irã. "Quiseram tirar mais de 40 páginas", disse Atiq, "mas os meus livros já são curtos, e eu achei que não sobraria nada." Outros tantos livros não foram traduzidos nem chegaram ao Afeganistão - país de origem do autor -, mas atualmente há tradutores trabalhando nesse projeto, informa Atiq. "Não sei como vai ser a reação dos afegãos em relação a esses livros, mas veremos" - disse ele.
Ainda sobre a tradição da literatura do Afeganistão, Atiq relatou que nela não existem romances. "A arte de escrever romances não existe no Afeganistão. Se escreve muita poesia, muitos contos. Mas romance não existe". Atiq disse ainda que sofreu forte influência da literatura persa, sendo que provavelmente a economia verbal e o aspecto poético de seus textos vêm desse universo.
Bernardo Carvalho, por sua vez, disse não acreditar muito no aspecto exageradamente universal da literatura - e que seu livro, "Mongólia," por exemplo, não diz respectivamente sobre a Mongólia - sendo que seu enredo apenas foi concebido nesse cenário. Carvalho discordou de Atiq Rahimi quando o autor afegão sentenciou que o"escritor está destinado a ultrapassar fronteiras". Atiq defendeu-se, dizendo que, para ele, "o escritor é um ser errante, e a palavra, como o escritor, também é um ser errante."
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