Prêmio Camões de 1989: Miguel Torga por "Trás-dos-Montes."

Nascido em "Trás-dos-Montes," em Portugal, formado em medicina e especialista em otorrinolarinologia, Miguel Torga tornou-se um dos mais telúricos cantores de sua terra e de sua gente. Memorialista, ensaísta, contista, romancista e poeta, Torga merecidamente recebeu, em 1989, o principal prêmio da literatura produzida em língua portuguesa: o Prêmio Camões. Nos dizeres de nosso grande Jorge Amado, todavia, Miguel Torga não recebeu um prêmio que, por justiça, deveria ter sido seu: o Nobel de Literatura (concedido nesse mesmo ano de 1989 a outro português, José Saramago). Falecido em 1994, Miguel Torga deixou ao mundo uma obra vasta e bela, aberta a todos aqueles que desejam sentir, pela literatura, o balanço do mar português, o cheiro verde do Minho e o sabor dos frutos da terra lusitana.

Quer conhecer mais sobre Miguel Torga? Então ouça o Educativa nas Letras desse fim de semana, 10 e 20 de junho. Por enquanto, delicie-se, abaixo, com algumas das doces poesias desse que foi, também segundo Jorge Amado, um poeta "lusitano até a medula."

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
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Pátria

Soube a definição na minha infância.
Mas o tempo apagou
as linhas que no mapa da memória
a mestra palmatória
desenhou.

Hoje sei apenas gostar
duma nesga de terra
debruada de mar.